Parasitologia
1. Relações Entre os Seres Vivos
As interações entre organismos podem ser classificadas em relações intra-espécies e interespecíficas.
- Relações Intra-Espécies:
- União Física e Funcional: Caracterizadas pela vida em união física, formando uma unidade estrutural e funcional entre indivíduos da mesma espécie.
- Cooperação e Benefício Mútuo: Indivíduos da mesma espécie vivem em grupos com funções distintas e cooperam para benefício mútuo.
- Relações Desarmônicas: Podem ocorrer dentro da mesma espécie devido a situações de estresse excessivo, manejo inadequado ou falta de alimento.
- Relações Interespecíficas: Mencionadas como um tipo de relação, mas sem definição detalhada nos materiais.
- Parasitismo: É uma das relações entre os seres vivos abordadas na disciplina.
2. Principais Conceitos em Parasitologia
A parasitologia envolve a classificação dos parasitas e dos hospedeiros, e o estudo de períodos parasitológicos.
- Parasitas Monoxênicos: São parasitas que afetam uma única espécie hospedeira e completam todo o seu ciclo de vida nesse único hospedeiro. Um exemplo mencionado é Ascaris lumbricoides.
3. Ação Patogênica dos Parasitas sobre os Hospedeiros
- Dermanyssus gallinae: Conhecido popularmente como “piolhinho” ou ácaro vermelho das aves, parasita galinhas e outras aves. Sua importância em Medicina Veterinária e Saúde Pública reside em provocar diminuição da postura, perda de peso, irritação, anemia e diminuição no desenvolvimento das aves jovens.
- Ornithonyssus bursa e O. sylviarum: Espécies que também parasitam aves domésticas e silvestres. Assim como Dermanyssus gallinae, causam diminuição da postura, perda de peso, irritação, anemia e diminuição no desenvolvimento das aves jovens.
- Rhipicephalus sanguineus: Um carrapato comum em cães. Grandes infestações podem provocar desde leve irritação até anemia pela ação espoliadora de sangue. É considerado o principal vetor da babesiose canina e hospedeiro intermediário de Hepatozoon canis. Possui valor zoonótico pela transmissão de protozoários e riquétsias de animais ao homem.
- Rhipicephalus (Boophilus) microplus: Este carrapato afeta principalmente bovídeos. A lesão causada por sua picada provoca irritação local e perda de sangue, o que favorece a formação de miíases. A pele irritada predispõe a infecções secundárias. Há um desvio de energia do animal para compensar os danos, o que afetaria a produção. A picada também produz lesões que causam a desvalorização do couro. Além disso, os ácaros transmitem protozoários e riquétsias do gênero Babesia e Anaplasma, responsáveis pela tristeza parasitária bovina.
- Dermacentor nitens: Parasita equídeos, com preferência pelo pavilhão auricular, divertículo nasal e região da cauda. Pode transmitir aos equinos agentes patogênicos como Babesia equi e Babesia caballi. Sua picada pode originar ferimentos na pele que favorecem o aparecimento de miíases com lesões e até a perda da orelha.
- Amblyomma cajennense: Parasita a maioria dos animais domésticos e silvestres, incluindo seres humanos. Pode transmitir vários agentes patogênicos, como Borrelia (agente da doença de Lyme) e Rickettsia rickettsi (causadora da febre maculosa). Sua picada pode originar ferimentos na pele de cura demorada.
- Argas miniatus: Este carrapato, comumente encontrado em galinheiros, parasita aves. Sua ação espoliadora leva à anemia e mortalidade de aves, especialmente as jovens. A alimentação do carrapato produz lesões hemorrágicas na pele. A irritação que causa nas aves leva-as a bicar a pele, resultando na diminuição da postura. Serve também como transmissor de microrganismos (borreliose).
- Ornithodorus spp: Espécies registradas no Brasil que parasitam diversos animais, incluindo morcegos. São transmissores da Borrelia burgdorferi, agente da doença de Lyme. São hematófagos e provocam grande irritação nos hospedeiros.
4. Resistência e Imunidade aos Parasitas
O estudo da resistência e imunidade é crucial para entender como os hospedeiros reagem às infecções parasitárias.
5. Taxonomia Parasitológica e Nomenclatura Zoológica
A taxonomia parasitológica utiliza a Nomenclatura Zoológica para classificar e nomear os parasitas, seguindo uma hierarquia de classificação. A estrutura taxonômica para os carrapatos, por exemplo, inclui Filo, Classe, Subclasse, Ordem, Família, Gênero e Espécie.
Detalhes sobre Carrapatos (Ácaros)
Os carrapatos são artrópodes que pertencem ao FILO Arthropoda, CLASSE Arachnida, SUBCLASSE Acari. Dentro da subclasse Acari, são destacadas as ordens Mesostigmata e Metastigmata, além de Astigmata e Prostigmata.
Características Gerais dos Ácaros:
- Pequeno porte.
- Quelíceras modificadas e palpos curtos.
- Cefalotórax e abdome fusionados.
- Corpo coberto por placas (escudos) dorsais e ventrais.
- Larvas com três pares de patas, enquanto ninfas e adultos possuem quatro pares de patas.
- O ciclo de vida típico inclui as fases de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto.
Ordem Mesostigmata
Inclui as famílias Dermanyssidae e Macronyssidae.
- Família Dermanyssidae:
- Gênero Dermanyssus, com a espécie Dermanyssus gallinae, popularmente conhecida como “piolhinho” ou ácaro vermelho das aves.
- Hospedeiros: Principalmente galinhas e outras aves, como canários.
- Morfologia: Patas com garras e carúnculas; ânus localizado na porção terminal do escudo anal; quelíceras das fêmeas em forma de agulhas e dos machos em forma de pinças.
- Sobrevivência sem alimento: Proto e deutoninfas podem sobreviver até 1 ano, e adultos até 3 meses no ambiente.
- Importância: Causam diminuição da postura, perda de peso, irritação, anemia e redução no desenvolvimento de aves jovens.
- Controle: Remoção de ninhos, limpeza de galinheiros/gaiolas, desinfecção das instalações com água fervente e acaricidas, aplicação de acaricidas em paredes/pisos, higiene e isolamento de aves parasitadas, aquisição de aves livres de ácaros e prevenção do acesso de aves silvestres.
- Família Macronyssidae:
- Gênero Ornithonyssus (também conhecido como Liponyssus).
- Espécies e Hospedeiros:
- O. bursa: Aves domésticas e silvestres.
- O. sylviarum: Aves domésticas e silvestres.
- O. bacoti: Parasita de ratos silvestres.
- Morfologia: Quelíceras das fêmeas e machos em forma de pinças; ânus localizado na porção anterior do escudo anal.
- Ciclo: Geralmente completo sobre a ave. Fora do hospedeiro, podem sobreviver até 2 meses sem alimentação.
- Importância: Semelhante ao Dermanyssus gallinae, provoca diminuição da postura, perda de peso, irritação, anemia e diminuição no desenvolvimento das aves jovens.
- Controle: As mesmas medidas de controle aplicadas para Dermanyssus gallinae são recomendadas.
Ordem Metastigmata
Inclui as famílias Ixodidae (carrapatos duros) e Argasidae (carrapatos moles).
- Família Ixodidae (Carrapatos Duros):
- Morfologia:
- Aparelho Bucal: Composto por 1 hipostômio (possui fileiras de dentes direcionados para trás para fixação e secreta anticoagulantes), 2 pares de quelíceras (apêndices esclerotizados que cortam e perfuram a pele durante a alimentação), e 3 pares de palpos (órgãos sensoriais para localização do hospedeiro).
- Ciclo Evolutivo: Podem ser carrapatos de um hospedeiro ou de três hospedeiros.
- Principais Doenças Transmitidas:
- Amblyomma cajennense: Rickettsia rickettsii (febre maculosa); vírus da encefalite equina venezuelana; Ehrlichia (Cowdria) ruminantium.
- Dermacentor nitens: Babesia equi.
- Rhipicephalus microplus: Babesia bovis, Babesia bigemina; Anaplasma marginale.
- Rhipicephalus sanguineus: Babesia canis; Ehrlichia canis e Haemobartonella canis.
- Ao Homem: Febre Maculosa (Rickettsia rickettsii) – registrada em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro; Doença de Lyme – identificada no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Manaus.
- Gênero Rhipicephalus:
- *Espécie Rhipicephalus sanguineus:
- Características Morfológicas: Palpos e rostro (hipostômio + quelíceras) curtos; base do gnatossoma geralmente hexagonal; peritrema em forma de vírgula; escudo sem ornamentação; 11 festões (presentes somente nos machos); estigma em forma de vírgula (mais acentuado no macho).
- Ciclo Biológico (Três Hospedeiros): Larva sobe no animal, alimenta-se, desce e muda para ninfa. A ninfa sobe no hospedeiro, alimenta-se, desce e no solo muda para macho ou fêmea. Os adultos sobem novamente para hematofagismo. A fêmea ingurgitada desce para o solo e faz postura contínua de 2 mil a 3 mil ovos. As larvas eclodem após 20 a 60 dias.
- Importância: Comum em cães. Grandes infestações causam irritação e anemia. É o principal vetor da babesiose canina e hospedeiro intermediário de Hepatozoon canis. Possui valor zoonótico, transmitindo protozoários e riquétsias ao homem.
- Controle: Banhos carrapaticidas ou produtos sistêmicos (spot on) nos cães; manutenção do ambiente limpo e com vegetação baixa; higiene e aplicação de acaricidas nas instalações; higiene e isolamento dos cães.
- *Espécie Rhipicephalus (Boophilus) microplus:
- Características Morfológicas: Escudo castanho-avermelhado; base do gnatossoma hexagonal; palpos e rostro curtos; peritrema pequeno arredondado. Machos possuem 2 pares de placas adanais e prolongamento caudal.
- Hospedeiros: Bovídeos, mas pode ser encontrado em outros hospedeiros domésticos e silvestres.
- Sobrevivência sem alimento: Larvas sobrevivem até 8 meses.
- Ciclo Biológico (Um Hospedeiro – Monoxeno): Fêmeas ingurgitadas (teleóginas) desprendem-se do hospedeiro e ovipõem no solo. As larvas eclodem, sobem no hospedeiro, ingurgitam (metalarva), mudam para ninfas (adquirem mais patas), ingurgitam (metaninfa), transformam-se em adultos (machos – neandros/gonandros; fêmeas – neóginas/partenóginas/teleóginas). Após a oviposição, a teleógina morre (quenógina). A duração do ciclo não parasitário depende das condições climáticas (ideal 27°C e 80% de umidade).
- Importância: Picada causa irritação local, perda de sangue, miíases, infecções secundárias, desvio de energia produtiva e desvalorização do couro. Transmite protozoários e riquétsias dos gêneros Babesia e Anaplasma, responsáveis pela tristeza parasitária bovina.
- Controle: Limpeza e rotação das pastagens; no hospedeiro, banho de imersão, aspersão ou spray, medicação injetável e pour on; controle biológico.
- *Espécie Rhipicephalus sanguineus:
- Gênero Dermacentor:
- *Espécie Dermacentor nitens:
- Características Morfológicas: Gnatossoma com rostro e palpos relativamente curtos; base do gnatossoma retangular; estigmas circulares (“dial de telefone”); escudo sem ornamentação; 7 festões; machos sem placas adanais.
- Hospedeiro: Equídeos.
- Localização: Por todo o corpo, mas prefere pavilhão auricular, divertículo nasal e região da cauda do equino.
- Ciclo Biológico (Um Hospedeiro – Monoxeno): Semelhante ao R. microplus, com fases de teleóginas que ovipõem no solo, larvas que eclodem e sobem no hospedeiro, e posterior desenvolvimento para ninfas e adultos no mesmo hospedeiro. A duração do ciclo não parasitário é influenciada pelo clima (ideal 27°C e 80% de umidade).
- Importância: Transmite agentes patogênicos como Babesia equi e Babesia caballi aos equinos. A picada pode causar ferimentos, miíases e até perda da orelha.
- Controle: Desafiador devido a locais escondidos. Tratamentos em regiões endêmicas com pulverização de acaricidas em intervalos de 24 dias, por 4 meses ininterruptos. Roçar a pastagem no verão para expor larvas ao sol e reduzir a população.
- *Espécie Dermacentor nitens:
- Gênero Amblyomma:
- *Espécie Amblyomma cajennense:
- Características Morfológicas: Gnatossoma mais longo que largo; escudo ornamentado; palpos e rostro longos; peritrema em forma de triângulo com cantos arredondados; 11 festões.
- Hospedeiro: Parasita a maioria dos animais domésticos e silvestres; pode parasitar o ser humano.
- Sobrevivência sem alimento: Larvas por vários meses, ninfas por 1 ano e adultos por 2 meses.
- Importância: Transmite Borrelia (agente da Doença de Lyme) e Rickettsia rickettsi (causadora da febre maculosa). A picada pode originar ferimentos na pele de cura demorada.
- Controle: Em ambientes silvestres (florestas, parques, áreas rurais), adotar medidas preventivas como usar acaricidas nos sapatos, roupas que cubram o corpo e remover carrapatos rapidamente. Em áreas urbanas infestadas, o controle é similar ao Rhipicephalus sanguineus, tratando o animal e o ambiente.
- *Espécie Amblyomma cajennense:
- Morfologia:
- Família Argasidae (Carrapatos Moles):
- Características Morfológicas: Não apresentam escudo (daí o nome “carrapatos moles”). Gnatossoma ventral nos adultos; palpos livres. Dimorfismo sexual pouco acentuado (abertura genital da fêmea ventral, em forma de fenda e grande).
- Gêneros mais frequentemente encontrados: Argas e Ornithodorus.
- Gênero Argas:
- *Espécie Argas miniatus:
- Características Morfológicas: Face dorsal separada da ventral por borda lateral nítida; corpo achatado dorsoventralmente; aparelho bucal na face ventral; dimorfismo sexual pouco acentuado. Produzem poucos ovos. A fêmea não morre após a ovipostura.
- Hospedeiros: A maioria das espécies parasita aves (galinha, peru, pombo, silvestres). Comumente encontrado em galinheiros.
- Ciclo Biológico: Adultos ingurgitam na ave. Fêmea cai e ovipõe. Larvas fixam-se na ave, ingurgitam, caem e fazem ecdise. Ninfas (1 e 2) fixam-se, ingurgitam, caem e fazem ecdise. Ninfas 2 no solo transformam-se em adultos. Adultos permanecem escondidos no ambiente, a cópula ocorre fora do hospedeiro, e buscam o hospedeiro à noite para se alimentar.
- Sobrevivência sem alimento: Larvas por 3 meses, ninfas (protoninfa e deutoninfa) por 1 ano.
- Importância: Ação espoliadora causa anemia e mortalidade de aves (principalmente jovens). A alimentação provoca lesões hemorrágicas. A irritação das aves leva à diminuição da postura. Serve como transmissor de microrganismos (borreliose).
- Controle: Evitar a entrada de aves parasitadas no galinheiro. Procurar ácaros, especialmente embaixo das asas. Limpeza e uso de acaricidas nas instalações e destruição dos ninhos do ácaro.
- *Espécie Argas miniatus:
- Gênero Ornithodorus:
- Espécies Registradas no Brasil: O. rostratus, O. talaje, O. brasiliensis (parasitam várias espécies animais); O. marinkellei, O. hasei (parasitam morcegos).
- Características Morfológicas: Carrapatos Argasidae sem limitação nítida entre as faces dorsal e ventral. Formato de corpo suboval com margens arredondadas. Aparelho bucal bem desenvolvido. Larvas apresentam placa dorsal, importante para o diagnóstico. Ovos são escuros e isolados.
- Habitat: Vivem em solo arenoso, em áreas sombreadas, ao redor de árvores.
- Ciclo Biológico: Fêmeas depositam lotes de cerca de 100 ovos sobre a areia. Em aproximadamente 8 dias, eclodem as larvas, que mudam para ninfas (passando por vários estágios ninfais) até se tornarem adultos. Todos os estágios são hematófagos.
- Importância: Transmissor da Borrelia burgdorferi, agente da Doença de Lyme. São hematófagos e provocam grande irritação nos hospedeiros.
- Controle: Destruição dos esconderijos e aplicação de acaricidas nas instalações.



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